6.12.10

PARA QUEM ME CONHECE... EU NÃO DOU UMA SORTE ASSIM

06/12/2010 - 15h26

Javali ataca açougue na Alemanha e acaba vendido como presunto

DA REUTERS 

 Vejam na íntegra em:

 

BAIXAR PERISCÓPIO

Deu no Info Money: "Classes emergentes usarão décimo terceiro para dívidas e compras de Natal".

O SS Micalba prestes a ser
atacado pelo NRN SERASA
e o NRN SPC

4.12.10

O PARAÍSO DOS TARADOS

Suíte brega do Le Baron: a síntese.
De repente me deu uma vontade danada de rever o Maranhão; vou chamar a Sra. Micalba e mais uns casais pervos na meia-idade e organizar uma excursão o quanto antes.

O motor da transformação em paraíso sexual do estado cujos símbolos eróticos até ontem eram o bigodão fálico do Sarney e as celulites da Roseana é o Motel Le Baron e as suas suítes temáticas; chequem em http://www.meulebaron.com.br/suites.htm .

Além daquelas suítes simples - com uma cama e vários acessórios francamente supérfluos – o Le Baron oferece uma série de ninhos de amor de fazer qualquer pervertido babar no tapete malhado.

A escolha é múltipla: na suíte Camping você e sua gata podem recordar os dias de juventude num trailer de verdade, presumivelmente com uma TV que não pega, nuvens de pernilongos, água fria e racionada  e nada de ar condicionado.

A Taj Mahal deve ter sido feita para quem quer transar até morrer (afinal de contas, o Taj é um túmulo), de preferência depois de esgotar todas as posições do Kamasutra. Entre o Lingam de elefante e a Yani de periquita, o casal sucumbe feliz e garante a posteridade.

A suíte Árabe é bombardeada pela USAF dia sim, dia não, o que torna tudo mais emocionante. Vem com uma burca erótica e um monte de pedras de tamanho conveniente, para os casais adúlteros.

A suíte Aeroporto (com um avião de verdade) é indicada para relações em permanente turbulência, e para pessoas com ejaculação extremamente atrasada. Cuidado com os cancelamentos.  

A suíte  Pit Stop é para automaníacos, que podem trocar juras de amor automobilístico apaixonado:
- Minha Ferrari!
- Meu Dojão!
- Dojão?
- É, querido: você bebe pra burro, está com uma lataria enorme e vive engasgando ou morrendo na subida.

A suíte Hi-Tech foi feita para os internautas: cada um se senta na frente de um computador, completamente vestido, e fica mandando mensagens safardanas para o parceiro.

A suíte Africana oferece “roupões selvagens”: deve ser um leopardo vivo, um rifle com uma única bala e uma faca de esfolar.

A suíte Romana é indicada para casais da terceira idade, que já estão ou em decadência ou em ruínas.

A Tarzan é a mais interessante, na minha opinião: tanto dá para brincar de “Me Fulano, You Beltrana” como para convidar a Chita para um Ménage a trois bestial.

Os Jutucurundenses vão ficar fãs da Suíte Country, onde a sua cowgirl do Norte Selvagem pode te laçar, te marcar a ferro e te juntar ao rebanho dela.

Já a suíte Trem atrai gays adeptos de sexo grupal, que podem se engatar à vontade e formar um trenzinho, com a mais excitada das tias apitando e fazendo PIUÍÍÍÍ lá na frente.

Minha grande decepção foi com a Suíte Presidencial: eu esperava uma cópia do Alvorada, com uma barba postiça, um barril de pinga  e um afrodisíaco que provoque um verdadeiro tesão de seminarista: afinal de contas, quem fica na Presidência adora foder com todo mundo.

RENDI-ME AO MALDITO CANÁRIO!

O Micalba agora está no Twitter!
@Quintadomicalba

3.12.10

BRIGA NO GALINHEIRO

Deu na FOLHA: Dona Marisa está inconsolável desde que Dona Dilma roubou o cabeleireiro da atual Primeira Dama, e marcou hora para se arrumar para sua posse como Presidenta.
O piloto de secador em questão, Celso Kamura,  está de férias na Bahia. Deve estar indo a todos os terreiros de candomblé e a uma por uma das 365 igrejas de Salvador, implorando por um milagre que transforme uma sapa numa princesa.
E o que vestir depois da coiffure do Celso? Com sua notória expertise em assuntos ligados à moda, o Micalba sugere à La Brouxef que use os serviços do costureiro afegão Mahbub Ali.
O Mahbub faz as burcas mais elegantes de Kandahar.  

2.12.10

THE MICALBA LEAKS

Diplomata é, por definição, aquele cara que fala muito e nunca diz nada; o Micalba sabe porque por um dia estudou para ser Itamaragay. E é por isso que o chamado Cablegate causou tanto rebu: um monte de diplomatas falando a verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade é notícia em qualquer época, nem que seja para a imprensa e a "opinião púbrica" se fingirem de melindradas.
Agora a Quinta do Micalba divulga com exclusividade mais um cabograma - este pós crise - que demonstra o esforço dos pérfidos ianques em esconder mais uma monumental cagada Made in USA:

"TO: ALL PERSONNEL CONCERNED
FROM: JIMMY BOND, C-in-C, CIA

Dear Guys:

Due to the Cablegate scandal, the not-so-secret agents working in Brazil should refrain from:

1)      Calling Mr. Luís Ignaro A.K.A. “Lula”  da Silva:
- That drunken bastard;
- That ignorant SOB;
- That dumb sod;
- That fucking geezer;
- That uncultured twit.

2) Calling Mrs. Dilma Roussef:
      - That bloody dyke;
      - That ugly bitch;
      - That damned witch;
      - That commie hag;
      - That pinko fucker.

From now on, these expressions should be used strictly by native Brazilians.
PS: The recent facts in Rio de Janeiro should be referred to only as “Police Operations”; never as “Bloody balls-up”; “Freak show”; “Fucking circus”; “Terrible blunder” or any such expressions.

Yours,

The Boss."

Viram? É só ser mais politicamente correto, que tudo se conserta.

30.11.10

VÔ FAZÊ BIRRA DAQUI PLÁ FLENTI!

Sem comentálio, sem postagem!
(Plá quem me conhece: palece comigo, não? Fola a balba. )

FORO COMUM E FORO PRIVILEGIADO

Falar de Direito dá meio que azia no Micalba, mas - como grande número dos leitores fiéis dessa joça é do ramo - olhem essa daqui, que saiu do livro de Charles MacKay “Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds” (um clássico de quase dois séculos que fica cada dia mais atual).
Durante a parte da Idade Média que estava em recessão econômica resolveram substituir juízes e tribunais pelas Provas de Deus e os Ordálios. A coisa funcionava assim: o acusado passava por um teste (tipo enfiar a mão em água fervendo, andar sobre brasas, ou dormir com a freira mais feia do convento). Se o réu passasse razoavelmente incólume (ou seja: tivesse apenas queimaduras de primeiro grau ou descobrisse o Ponto G da Madre Superiora) era absolvido; se não resistisse (por exemplo: se gritasse “AAAIII! Tá quente pra caralho!” ou tivesse o pirusgulinho pequeno; ou brochasse) - fogueira nele. Agora tu vai ver o que é que é fogo mesmo, vagabundo!
As duas Provas de Deus mais comuns nessa época eram O Teste da Água – o dos plebeus e ralé em geral – e o Teste do Pão Com Queijo, reservado aos membros do Clero.   
Foro Comum
O Teste da Água era assim: pegava-se o acusado ou acusada, e jogava-se num curso d’água bem fundo e de preferência gelado. Se o infeliz se afogasse, era inocente e ganhava uma absolvição póstuma; se boiasse ou nadasse, era culpado e saía do lago direto para a fogueira, para esquentar o corpinho gelado até 400oC. Isso era o Foro Comum.
Foro Privilegiado
Já o Teste do Pão Com Queijo ou Cornsed era mais ameno: colocava-se no altar um pedaço de pão e outro de queijo enquanto o padreco acusado, resplandecente nas suas roupitchas clericais, rezava acompanhado de acólitos, sacristãos e um bispo ou dois. O teor da oração era o seguinte: se ele fosse culpado do crime que lhe atribuíam, que o Anjo Gabriel o fizesse engasgar com o pão e o queijo, e que ele não conseguisse engoli-los. Acabada a oração, o réu comia um pedaço de queijo, outro de pão e, presumivelmente, tomava um golezinho de vinho. Era o Foro Privilegiado.
Parece mentira, mas é História, e a eficiência dos testes comprova a razão de sua elaboração: enquanto ninguém escapou vivo (pelo menos por muito tempo) do Teste da Água, não existe notícia de nenhum padre, arcebispo ou cardeal que tenha morrido entalado. Privilégio é assim.   

29.11.10

EU PREFERIA...

Deu no UOL: professores e alunos do Morro do Cruzeiro e do Complexo do Alemão  receberão "uma atenção psicopedagógica para superar os traumas vividos".
Eu preferia um bom colete à prova de balas.

O NOVO INIMIGO PÚBLICO

Numa das cartas do leitor ao JL de hoje, alguém protestou contra “a epidemia de milho verde que assola os sanduíches e pizzas londrinenses”, e terminou: “Conclamo os londrinenses de bom gosto para uma campanha “abaixo o milho verde”!”
O Micalba se considera um sujeito de gosto razoável, mas informa ao Jair que não vai aderir: apesar de não gostar de milho no cachorro quente e de consumir pizzas muito esporadicamente (a maioria delas sem milho verde), a verdade é que o escriba gosta de pamonha, de milho verde assado, cozido, de quenga de galinha com pudim de milho  (não como há anos... saudade!)  e principalmente de broa de fubá com milho verde e queijo canastra. Serei, pois, apenas um observador neutro quando as multidões tomarem as ruas, agitando bandeiras, carregando faixas e cantando slogans como “Ervilha! Unida! Jamais será vencida!”  e entoando “Caminhando e cantando e odiando o milhão” ou algo assim.
Se a campanha der certo, podem acabar aprovando uma lei proibindo o consumo de milho verde no perímetro urbano. (Senhores políticos: derrotados os fumantes, que tal perseguir os consumidores de milho verde? São um alvo fácil: basta contratar uns “especialistas” Mandrake para demonstrar os riscos do consumo passivo de milho verde, e cada um ganha seus quinze minutos de fama e refletores). Mas daí alerto o Jair:  o Micalba passará à Resistência, e junto com meus Maquis e partisans e guerrilheiros  e me intitulando Comandante Curauzinho, semearei pés de milho em todos os jardins e praças da cidade. Colocaremos  pamonhas na Câmara dos Vereadores (mais uns não farão diferença), encheremos a caixa d’água da prefeitura de suco de milho verde,  entregaremos um balde de mingau de milho na casa de cada membro do executivo, do legislativo e do judiciário. Nem o arcebispo ficará de fora.
E quanto a você, Jair, nunca saia de casa sem antes conferir se alguém pôs uma espiga na tampa do tanque de combustível.
Por enquanto, aconselho a você uma coisa: tente o método democrático. Funciona assim: ao fazer o pedido numa lanchonete ou pizzaria, diga antes: “o meu sem milho verde, por favor!”.
Acredite: ainda funciona.

26.11.10

CASAMENTEIRO EM SURUBA


Shangri-lá: só se passar por cima da gente.

Londrina nasceu do jeito que as cidades devem nascer: por acaso (do contrário, vira um pesadelo, como Brasília). A capital do Norte Selvagem devia ser Jacarezinho, mas vai daí que o avô do Thomas resolveu morar aqui e o pessoal achou que ele era um bom vizinho em potencial, e foi se mudando para perto – e, pronto, mais uns aninhos e a cidade nasceu.
No meio do caminho fizeram às pressas um projeto de urbanização que não ficou mal feito: os Igapós dão um charme especial à cidade, o Centro Velho está (estava) ficando com cara de centro velho mas continuava transitável – até deleitável, aos sábados de manhã – o Centro Cívico foi uma boa idéia, grande parte da população mais humilde mora melhor do que noutros lugares do mesmo tamanho ou até menores.
E seria muita pretensão dos londrinenses falar em caos urbano: no máximo há uma baguncinha – os chatonildos dos malabaristas de semáforo (graduados numa escola mantida até a pouco pela Prefeitura; hoje não sei), um trânsito cada dia mais azedo, principalmente nos horários de pico, o descaso com praças e jardins, uma coleção de panelas no asfalto de fazer inveja à Coleção Le Creuset.
Apesar disso o Alcaide encarnou o espírito do Jânio Quadros (pelo menos metade, a outra incorporou no Kassab) e resolveu por ordem numa confusão inexistente, e meter-se a “moralizar” o que estava bom para todo mundo. Acabou com os carroceiros, fechou todos os quiosques – inclusive bancas de revista – transformando o que era um espaço urbano de convivência em mais um ponto de passagem, e, de quebra, lançou todas as firulas legais possíveis na direção do meu querido Mercado Shangri-lá.
No espírito de qualquer Alcaide – porque no coração dos londrinenses tenho certeza que já é – um lugar como o Shangri-lá devia ser motivo de orgulho, e objeto de preservação. É o melhor mercadinho urbano que conheço: classudo, bem sortido, com um bom espaço para trançar, muito menos impessoal do que o de São Paulo e autêntico – o Mercado Central de Belo Horizonte, por exemplo, é cada dia mais uma armadilha para turistas. E a verdade é que no Shangri-lá – muito menor – se encontram quase as mesmas coisas do que nos seus irmãos das cidades maiores.
E o pessoal de lá trabalhou e trabalha duríssimo para construir e manter aquilo, transformando um velho galpão urbano num endereço de charme. Sou freguês de carteirinha há 18 anos, e sempre fui tratado com gentileza, urbanidade extrema e paciência – até na hora de eu pagar a conta. E hoje não tenho ali mais vendedores nem fornecedores, mas amigos – e vi o esforço que eles fizeram todos esses anos.
Mas o Alcaide só fez cumprir a lei, diz a claque. Não sei: vinte anos no meio jurídico fizeram o  alter ego do Micalba acreditar que não existe máxima jurídica mais presente do que Dura lex, sed latex – a lei é dura, mas estica. Nesse caso, tem sido dura só para o pessoal do Shangri: cada vez que eles ganham uma batalha no meio popular – como o abaixo-assinado para o tombamento – levam uma traulitada nova do arsenal Alcalino.  
Daqui a pouco para ver uma carroça nas ruas e escutar o som gostoso dos cascos do calçamento – clop, clop – ou para comprar um saquinho de amendoins na beira da calçada, ou para comprar um jornal na banca, ou para tomar um cafezinho no meio de uma caminhada vou ser forçado a ir para um lugar menos desenvolvido, como Londres (onde algumas cervejarias ainda distribuem os barris de carroça), Paris ou Edimburgo. E para fazer as compras, vou poder escolher entre o Muffato, o Super Muffato, o Hiper Muffato, o Mega Muffato ou o Ultra Muffato.
Caro Alcaide: moralizador em ambiente que não é imoral é tão indesejado quanto casamenteiro em suruba. Todo o mundo está se divertindo, ninguém ficou de fora e daí chega o sujeito:
- Minha cara: não acha melhor ter um pouco de dignidade e limitar o número de parceiros?
- Ah... ah... aaaahhh... aaaaaaaaaaahhhhhhhh!
Ou então:
 - Meu jovem: já vi que você gosta das peludinhas. Mas porque você não retira a moça desse ambiente promíscuo e faz dela uma mulher honesta?
- Essa aqui é uma cabrita, cara.
Nada pessoal, absolutamente; mas aqui vai um conselho ao Alcaide: desse jeito, daqui para frente não arrisque a se candidatar nem para Líder da Minoria em Convenção de Condomínio, porque não vai dar.

Micalbowski?

Ou seria ela? Tomara...
Os pouquíssimos porém fiéis leitores do Micalba estão espalhados por três continentes: a turma daqui, dois solitários nos EUA – o Deerhunter e o Robin Hood, acho – uma turma em Portugal (aposto nos meus confrades do Santo Huberto) e um solitário leitor na Sibéria, que entra dia sim, dia não.
O mais óbvio é que esse siberiano seja um hacker em potencial ou um adolescente entediado no longo inverno de seis meses, mas meu lado otimista me faz pensar que talvez eu tenha um fã siberiano de verdade. Posso vê-lo daqui, um sujeito que aprendeu português para aumentar a sua já considerável cultura, correndo para o computador entre uma caçada de renas e uma perseguição aos ursos e acessando o Micalba, para depois comentar à noite com os amigos na beira do fogo, entre um gole e outro de vodka:
- Micalbowski? Muito engraçadinski!
Spassiba, leitor anônimo.

Lula: "Quem torturou Dilma deve estar se torturando"

... já quem votou nela ainda vai esperar um pouquinho antes de se atenazar com ferro em rubro.

GOROROBA

O Micalba tinha um primo – de resto um excelente sujeito – que era adepto da faux cuisine. Faux cuisine é a arte(?) de cozinhar com ingredientes substitutos (que, lógico, são mais baratos e vagabundos), de forma que o resultado se pareça com ou até supere o original. O problema é, em três palavras: nunca dá certo.
Kani-kama não é santola. Cogumelo moidinho não é trufa. Ova de salmão não é caviar. Gengibirra Gini não é ginger ale. Cerveja sem álcool é uma mixórdia choca, repelente e insossa.
E parece que o governo da Dilma vai por aí, se o ministério dela indicar alguma coisa: uma faux cuisine do original. E o drama é que se o original já era uma tremenda Buchada de Bode Velho ao Molho de Jerimum Azedo, substituir isso por ingredientes mais baratos e vagabundos - ou deletérios à saúde, como o Palocci e o Zé Dirceu, que há muito já perderam o prazo de validade - vai resultar numa gororoba de enjoar abutre.  


25.11.10

UMA BOA NOTÍCIA

Deu no MSN Brasil: no próximo BBB – o décimo primeiro, um mau sinal de que a imbecilidade humana tem limites largos – vão permitir agressões físicas.
O ideal do Micalba sobre o reality show  perfeito é mais amplo: dá-se uma arma para cada um, de tipos variados – um revólver, um punhal, uma corda, um frasco de veneno, uma barra de ferro – e se premia o sobrevivente (se houver algum). Mais ou menos como no jogo “Sleuth”, “Detetive” na versão brasileira.
A humanidade agradeceria a saída de um bom número de idiotas do pool genético, e o programa ia ser pelo menos um pouquinho interessante.
Mas para começar, uma boa distribuição de porrada parece um passo na direção certa.

23.11.10

NOVIÇAS DO VÍCIO

Hoje o Micalba topou na rua com três criaturas saídas da Toca de Assis andando alegremente sob um mormaço de trinta e tantos graus com todos aqueles cobertores pardos nas costas. Engraçado: em Jutucurundu os Entocados são todos gordinhos e meio baixotes; aposto que se o Velho Chico se encontrasse com um ia receitar um jejum de quarenta dias e mais uma longa corrida, com o lobo dos Abruzzi nos calcanhares.
Mas encontrei o mais bizarro uniforme religioso da minha vida num aeroporto: eram umas freirinhas de hábitos marrons com uma cruz de Santiago no peito, botas de montaria de cano alto e uma corrente amarrada na cintura – uma consulta ao Google as identificou como Arautos do Evangelho. Sorte que eram todas ou velhuscas ou feiosas, ou a combinação de botas de cano alto, correntes e um hábito meio pecaminoso iam despertar sentimentos muito pouco religiosos na platéia masculina tendente a perva – o Micalba incluído.
Os atendentes da maquininha que faz “Plim” antes da sala de embarque – normalmente uns chatonildos de marca por natureza - deixaram as freirinhas embarcarem numa boa com aquelas grossas correntes, e o Micalba ficou pensando: se os outros acham que o seu amiguinho imaginário é mais bonitinho do que o deles, você pode tudo. Imagine se as Arautas (ou Ararutas, não sei bem)  fossem gordinhas como as  Entocadas (e portanto de amplas cinturas) e começassem a brandir metros e metros de correntes dentro do avião e a gritar “Viva Cristo Rei”?  O que restaria ao Micalba e aos outros passageiros? Clamar por  Alá,  Buda, Maomé, Gobind Sinhg, Osho ou outros amiguinhos imaginários ou gurus mortos há muito, muito tempo? Não quero nem pensar.
Antes, o Micalba pensava que o melhor a fazer com o prêmio da Megasena da Virada seria montar a  Fundação Micalba de Apoio e Suporte à Linda Ninfomaníaca Desamparada, e adotar candidatas vindas de todos os cantos do mundo. Hoje já não tenho tanta certeza: melhor (e mais barato, e quiçá lucrativo) seria montar uma seita e recrutar acólitas sem nenhuma vontade própria ou capacidade de discernimento – o que deve ser mais fácil do que parece . Em homenagem à Chére Tante Rita Lee, acho que vou batizá-las de Noviças do Vício, e me intitular Fra Diavolo ou algo semelhante – esse pessoal crente tem memória curtíssima e imaginação menor ainda, e não vai fazer conexão alguma. Quanto ao uniforme, fácil: repeti a minha pesquisa no  Google, de botas + montaria + correntes, e só acrescentei couro, e saiu isso daí:

Sexy, não?
Por outro lado... vá sonhando, Micalba.

Uma proposta revolucionária


O troco vai em Bailey's - o bolinho é brinde.

Dos chamados PIGS - Portugal, Ireland, Greece and Spain (em português o acrônimo não faz sentido) - o Micalba tem um fraco assumido por pelo menos dois: Portugal e Irlanda. Digo pelo menos porque passei lá as melhores férias da minha vida, mais na Irlanda - dez temporadas completas unido aos inomináveis e perseguindo a intragável. Mas isso é outra estória, para irlandês (Shaw, principalmente) ver.
Agora vejo na mídia que a República Irlandesa está pedindo arrego, e vai conseguir da União Européia 90 bilhões de euros em empréstimos, para arrumar o caixa.
Eis aqui minha proposta aos irlandeses: mandem o governo se catar, e fiquem vocês mesmo com o dinheiro. Conderando a população da República Irlandesa - de 3.968.192 habitantes, pelo último censo - cada um deles (incluindo crianças) ganharia 22.680,35 euros, que eu aposto que iriam gastar individualmente com muito mais sensatez do que qualquer governo: reformando a shebeen, trocando as cortinas, comprando brinquedos novos, dando um gorro novo ao leprechaun da região. Qualquer das opções anteriores é mais sensata do que entregar toda essa grana na mão de economistas, políticos e quejandos.
Por mim - e acho que para meus amigos irlandeses também - o melhor é gastar tudo em Guinness ou em Jameson. Por pior que seja, a ressaca ainda vai ser bem melhor do que a provocada pelas panacéias dos economistas.

22.11.10

CAMISINHA - A POSIÇÃO OFICIAL DO VATICANO

Com um ligeiro atraso de 2.010 anos (as camisinhas existiam desde a antiguidade, feitas de tripa de carneiro), o Bento Papão disse que o uso de preservativos “pelas prostitutas” é aceitável. Como ele não disse nada dos clientes beatos, inclusive dos arcebispos, a coisa ficou na mesma: a prostituta pode usar camisinha, mas lhe falta aonde – pronto, fechou o círculo outra vez.
O Micalba consultou seu contato no Vaticano, que esclareceu:
“Caríssimo Primo:
A missão da Santa Igreja Católica é espalhar a Paz de Cristo pelo mundo, e dignificar a Humanidade. Para fazer isso durante a nossa existência fomentamos e incentivamos a morte de alguns milhões de pessoas em guerras religiosas, suprimimos, mutilamos ou destruímos inúmeras obras de arte e ciência, e incendiamos ou torturamos alguns artistas e cientistas. Somos meio desastrados, admito, mas pelo menos pedimos desculpa depois – às vezes. E o que são alguns milênios de atraso para se desculpar, se o tempo Dele é eterno? Por outro lado, veja as nossas boas obras: protegemos  - menos os pedaços que a gente não gostou - grande parte do Cânone Ocidental (a maior parte das vezes de nós mesmos),  destinamos uma parte ínfima de nossos imensos lucros à caridade, patrocinamos inúmeros artistas e artífices para glorificar Nossa Obra. Se você quiser ver o que eles produziram, é só pagar.
Quanto à questão das camisinhas, sua perspicácia foi certeira: a prostituta pode, o cliente não, senão acaba no Inferno. Como a prostituta também acaba lá, ainda que por outros motivos, eu por mim estou satisfeito. Vocês, não sei.
Mas é mentira que a Igreja condena o uso de preservativos em quaisquer circunstâncias. Consultando o Index, posso assegurar que qualquer bom Católico pode usar a camisinha:
- Para proteger o cano do rifle em dias de chuva, especialmente se a guerra for Santa;
- Para encher de água e atirar do alto de edifícios, principalmente se uma passeata pró-aborto estiver passando embaixo;
- Para encher de ar e decorar a casa, especialmente em festas religiosas;
- Para isolar relés em situações de emergência;
- Para proteger pilhas e baterias da umidade;
- Para transar com a minha mãe, minhas irmãs e minhas tias.
Mas, atenção: para proteger a vida de milhões de africanos da AIDS, não pode. Deus castiga.
Abraço do Primo,
Cardeal Agostinho Beato dos Martírios Micalba”.  



20.11.10

Estorinha repaginada

Como eu não podia perder a deixa...


O terceiro porquinho se deu bem

Era uma vez três porquinhos: Palhaço, Palito e Pal.... (você completa). Cada um dos três roubou dez milhões e foi esconder, à sua maneira.
O primeiro – o mais burro dos três – enfiou tudo na cueca e saiu pelo mundo. Vai daí que numa de suas viagens ele passou pelo detector de metais e raio-X  operado pelo Lobo Mais ou Menos, que trabalhava na Polícia Federal. O Lobo Mais ou Menos descobriu tudo, encanou o porquinho – ele foi solto pelo STF horas depois – e confiscou a bufunfa.
O segundo porquinho colocou tudo num cofre nos fundos de casa, mas correu para contar tudo para os amigos por telefone. O Lobo Mais ou Menos interceptou o telefone, conseguiu um mandado e invadiu a casa do porquinho junto com uma alcatéia armada até os dentes e confiscou o dinheiro, mas não conseguiu prender o porquinho porque ele recebeu uma dica pelo telefone minutos antes e pulou a janela. O segundo porquinho entrou no STF e conseguiu recuperar R$ 9.999.999,00, dizendo que tinha recebido tudo de herança do Tio Porcolino Leitão, o Rei da Banha de Porco.
O terceiro porquinho depositou metade do dinheiro na Suíça, metade nas ilhas Cayman e escondeu os comprovantes na casa dos pais, o Barrão Mor e a Dona Leitoa. Quando o Lobo Mais ou Menos tentou rastrear o dinheiro o terceiro porquinho quebrou o sigilo fiscal dele e descobriu que o Lobo Mais ou Menos errara oitenta centavos a declarar na coluna de rendimentos.  O Lobo Mais ou Menos foi afastado, processado por abuso de autoridade no caso do segundo porquinho e depois transferido para a fronteira com a Venezuela. O segundo e o primeiro porquinho aprenderam então a lição e deram tudo para o terceiro porquinho guardar, o que ele fez com maestria. Dona Leitoa aproveitou uns trocadinhos para comprar uma coroa e virar a Rainha do Chiqueiro, e o Barrão Mor comprou duas toneladas de bagaço de cana e se chafurdou até cansar. E todos viveram felizes para sempre, menos o Lobo Mais ou Menos. Esse ficou mesmo na solidão do Planalto das Guianas, uivando para a lua cheia. Mas ninguém mais escuta.

Porcariada

Deu na FOLHA de hoje: o trio Dutra, Cardozo e Palocci - os coordenadores da eleição da Dilma - foi apelidado carinhosamente (?) de "Os Três Porquinhos", apelido oficialmente reconhecido pela Magnífica Comissária e Presidenta.
Qualquer dúvida de que o próximo governo vai ser uma porcaria foi, pois, oficialmente dissipada.

15.11.10

O Philosopho na Quinta

A Quinta teve um visitante ilustre esta semana: o Philosopho e cronista Eduardo Almeida Reis, imortal da AML e atualmente do Estado de Minas e do Correio Braziliense. O Micalba é fã dele desde adolescente (desculpe a indiscrição, Philosopho) por causa dos livros A Arte de Amolar o Boi e O Pinto e a Sra. Sua Mãe, presença indispensável em qualquer estante de fazenda, sítio ou chácara. Como somos ambos over-the-hill libertários, fumamos charuto e gostamos de botinas, a afinidade é evidente.
O post de hoje, aliás, parece ter pegado carona numa crônica dele, mas não é bem assim: foi, como meu pai dizia, transmimento de pensação. Vim da fazenda pensando no tema, e só em BH fui ler a coluna dele -  coincidência.
Por isso, e por causa das inúmeras liminares da Justiça Federal de Tracunhaém (mas com força nacional, o que não entendo bem) o teste do Micalba fica adiado.

QUEM ÉS TU, CONSUMIDOR?

Ela se recusou a dar o CPF
Antigamente o Micalba entrava numa loja, dava os bons-dias ou boas-tardes (sou simples, mas educadinho), fazia o pedido e – se tivessem o que ele pediu – passava no caixa, pagava, dava adeusinho e saía. Só.
Depois começaram a perguntar o meu nome, e eu nem liguei muito – aliás, o balconista também não ligava, perguntava por perguntar. Mas depois comecei a me chatear, e agora e me preocupar: uma passada em qualquer loja hoje ficou mais indiscreta do que uma visita ao psicanalista.
A palavra mágica – e horrífica – é “Cadastro”. Geralmente é pronunciada depois que a compra já foi feita, e muitas vezes depois do pagamento, quando você estende uma mão ávida mas impotente na direção da sacola.
Antigamente eu desconversava e ia saindo, mas hoje parece que sem cadastro não se compra nada – e olha que eu só pago à vista, e quase nunca, nunquinha uso cheques – só cartões de débito ou crédito, ou dinheiro mesmo. Depois que comecei a construir, foi um inferno: a cada tijolo, prego ou lata de tinta tenho que me submeter uma longa entrevista com o balconista: nome, telefone, código, endereço, CEP, CPF, e-mail, estado civil, opção sexual, data de nascimento, local, filiação, tipo sanguíneo, código genético, e a cada dia tem mais perguntas. Fumante ou não-fumante? Atlético ou Cruzeiro? Os Simpsons ou South Park? Bach ou Beethoven? Receio que daqui a algum tempo a coisa escorregue para o que o Stanislau chamava de “perigoso terreno da galhofa”, e que para comprar os cabides vou ter que escutar:
- Seu Micalba, que time é teu?
- Em caminho de paca, tatu caminha dentro?
O pior é que não adianta omitir, nem mentir. Sem a entrevista, diz o vendedor, “a nota não sai”. Mentir é pior ainda, porque eles já têm – Zeus sabe como – seus dados no computador antes de perguntar. E Zeus me perdoe se tudo tiver sido obtido por meios ilegais, mas de qualquer jeito a gente tem que responder – e ai de nós se errarmos, porque o vendedor olha com uma cara de “te peguei no pulo, hein?”. Lusitanamente, às vezes me indago: se já sabiam de tudo por que me perguntaram, raios?
Duas perguntas são particularmente indiscretas: a primeira, óbvio, é a data de nascimento completa. Às vezes respondo “quinze de junho de mil novecentos e não é da sua conta”, mas é inútil: uma olhada na telinha e lá está o ano certo. E se depois dos trinta e nove a idade dói, depois dos quarenta e cinco a pergunta é uma pontada no coração – literalmente.
A outra é a minha profissão, que anda meio intermediária. Eu já fui engenheiro de minas, depois promotor de justiça, e agora ando aposentado, mas já caçando o que fazer. Então, o que responder? Aposentado? Aposentado não é profissão; é a ausência dela. Promotor de justiça aposentado? Além de ser muito comprido, vem logo aquele olhar  de censura do vendedor:
- Aposentou novo, hein?
E tenho de explicar: não me aposentei novo por ser promotor, mas por ter trabalhado onze anos em minas subterrâneas, onde a insalubridade e a periculosidade contam o tempo em dobro. E se o Senhor acha que é fácil, saia aqui do ar condicionado e vá passar uma hora e meia por dia numa câmara de descompressão junto com um bando de marmanjos dos quais metade nunca usou desodorante e a outra metade se entupiu de Avanço. Do resto, nem te falo.
Já tentei engenheiro de minas, mas é meio antigo para mim (e eu nunca pensei que minha velha profissão fosse tão desconhecida, porque daí o vendedor pergunta: engenheiro de que? E isso numa loja a um pulinho de Morro Velho). Vamos então à minha futura profissão, mas daí fica mais confuso: se eu disser “fazendeiro” ou “pecuarista” o cara vai pensar que sou o rei do gado, e adeus desconto. Além disso é meio exagerado, porque fora para o Lula e a Dilma minha propriedade é mais um sítio. Mas por essa mesma razão não posso dizer “sitiante”, ou estaria usando uma impropriedade legal – sai de mim, que falei com propriedade legal por vinte anos. Agricultor? Mas não planto nada, a não ser para as búfalas e cavalos comerem. Lavrador? Não sou hipócrita, só seguro a enxada na horta de vez em quando e olhe lá. Produtor rural? Por enquanto pouco produzi, apesar de muito ter construído. Empresário agrícola? Ora, vá.
Ando treinando “pecuarista leiteiro” – o que me classifica imediatamente como masoquista, mas pelo menos é mais exato. Mas seja como for, a compra de uma dobradiça ou parafuso me faz entrar em crise existencial profissional  – mas tem que ser assim, ou “a nota não sai”.
Pior ainda fica se a empresa tem o tal “ISO mil e tantos” – daí a entrevista se transforma quase numa autobiografia ditada. O que me lembra a tortura de ir ao laboratório tirar sangue e colher a primeira urina da manhã.
Antigamente, meninos, era assim: a gente ia ao laboratório e a turma de lá presumia que o freguês estava em jejum de pelo menos doze horas para fazer o exame de sangue e de bexiga cheia para colher a primeira urina da manhã. Daí, se era encaminhado diretamente ao banheiro acompanhado do indefectível vidrinho e de lá ao vampiro de plantão, e só depois de ambos os frasquinhos cheios é que o pessoal perguntava seu nome e uns poucos dados, e marcava a data do resultado dos exames.
Mas então chegou a Qualidade Total, que significa o seguinte: você entra, pega uma senha e fica sentado numa sala de espera junto com outros infelizes famintos e loucos para irem ao banheiro esperando uma entrevista mais longa do que eu jamais enfrentei para arranjar um emprego ou fazer minha pós-graduação. Enquanto isso, vai vendo se quiser o noticiário da manhã ou a Ana Maria Braga na telinha – e ambos me dão um enjôo indescritível – enquanto espera interminavelmente a Gestapo da Qualidade Total interrogar os outros prisioneiros. A maquininha que chama as senhas vai lentamente fazendo “plim” e seus olhos vão se enchendo d`água – o nível já chegou lá. Só a inanição causada pelo jejum impede uma reação mais extremada, como fazer xixi na perna de uma das atendentes.
Quando finalmente chega a vez do seu “plim”, é hora de passar por um interrogatório de deixar envergonhadas a CIA e a KGB: todas as perguntas acima, e mais as que o seu médico já fez antes de pedir o exame (felizmente num consultório confortável, com o paciente alimentado e de pipi feito), perguntas essas cujas respostas, presumivelmente, são do conhecimento de quem pediu o exame em primeiro lugar.
Daí, se o infeliz não desmaiou de fome ou rompeu a bexiga, não desenvolveu pedras nos rins nem teve que correr para casa e se trocar porque fez nas calças antes, chega finalmente a hora do exame.
Não sei o que significa ISO, a não ser que é um acrônimo em inglês – mas pelas perguntas aposto que é Institute for Speculation on Others.
O que me intriga é o que eles fazem com as nossas respostas. Adepto de teorias da conspiração não sou, mas tanta curiosidade deve ter algum motivo – só que ainda não descobri qual. Uma hipótese razoável é que de posse de todos os seus dados e mais um esboço de sua personalidade alguém ligasse perguntando, por exemplo:
- Seu Micalba, gostou dos azulejos? São mesmo branquinhos? Olha bem se o pedreiro não vai assentar algum torto...
Talvez a preocupação deles não seja comigo, mas sim com a empresa, mas mesmo assim acho que eu merecia uma satisfação, tipo:
- Seu Micalba, sabe o que o patrão fez com o lucro da venda dos azulejos que eu te vendi? Aproveitou para aumentar em setenta centavos o meu bônus de Natal, e trocou o filtro do ar condicionado...
Pelo menos aí a coisa toda teria algum sentido.
Por enquanto, a única coisa que me acontece é perder um bom tempo sem saber para que; outro dia levei uma bronca da Madame Micalba e tive que me explicar:
- Meu bem, foi assim: quando disse à balconista da farmácia a Conjunção Astral do meu nascimento – cadastro, você sabe – ela descobriu que eu sou Espaguete à Carbonara no Horóscopo Javanês, e cismou de fazer meu mapa astral. Depois passei na padaria para comprar mortadela, e ao fazer o cadastro o caixa descobriu que temos um tataravô em comum – ficamos conversando sobre nossos ancestrais, sabe. E no posto de gasolina me pediram o número do certificado de vacinação, e eu fiquei horas...
E como resistir a essa turma, se omitir não basta e mentir não adianta? O Micalba desenvolveu algumas estratégias:
MÉTODO KRIPTONITA (OU VAMPIRO FRENTE À CRUZ): Quando disserem: “Vamos fazer um cadastro?” grite AAAAAARRRRRGGGGHHHH, e caia no chão estrebuchando e revirando os olhos. Soltar uma fumacinha ajuda; colorida ainda é melhor. Tente não exagerar, porque você pode virar cinza.
MÉTODO HERÓICO: Encare o vendedor bem nos olhos, estufe o peito, dê um meio sorriso de desdém e diga a ele: “Podem me torturar o quanto quiserem, mas só direi meu nome, profissão e número do CPF”. Se ele insistir, aumente o olhar altivo e cuspa na cara dele – mas espere pela bofetada.
MÉTODO NEOCLÁSSICO – Quando começarem as perguntas, faça uma longuíssima descrição – devidamente entremeada de números, que é o que eles querem: “Nasci às 10:39 de uma manhã de quinta-feira, no dia 15 de junho de 1961. Meus olhos se abriram pela primeira vez no Hospital Vera Cruz, que fica na Rua Timbiras, 3156, no Bairro do Barro Preto, em  Belo Horizonte, Minas Gerais. Eu ainda era muito novo para saber o CEP de lá – nem existia, na época, mas hoje é 30140-062. Do telefone antigo de lá também me esqueci, pois minha frágil memória às vezes me falha, mas hoje é 31 3290-1000. Vim ao mundo numa friorenta manhã de outono, quando o termômetro marcava 16 oC. A mínima naquele dia foi de 12oC; a máxima, de 26oC. Quer que eu converta para Fahrenheit? Moço? Moço?”
Mas não pensem que o Micalba  é um misantropo, que não quer conversa com quem está do outro lado do balcão. Sou um cliente fidelíssimo, que há vinte anos compra no mesmo açougue, na mesma quitanda e na mesma mercearia, e hoje amigo de todos os que lá trabalham – de irmos aos aniversários uns dos outros. Mas os donos são japoneses, eu sou mineiro e nunca especulamos sobre a vida uns dos outros: fomos nos conhecendo na maciota, um pouquinho aqui, um pouquinho ali. O que eu não suporto é essa intimidade forçada.  

10.11.10

Êêêêêhh…NEM…

Os alemães deram ao mundo uma excelente cerveja (se bem que o copyright nesse caso seja dos assírios), ótimas salsichas e o Beethoven. Pena que para contrabalançar inventaram o jardim de infância, o nazismo e as provas escolares – todos mais ou menos análogos.
Antes das provas existirem o aluno tinha que demonstrar na prática que os anos de aprendizado tinham rendido alguma coisa: o discípulo de ioga tinha que levitar ao menos um pouquinho, o seminarista tinha pelo menos que transformar branco em tinto e multiplicar uns lambaris, o aprendiz de alquimista tinha de transmudar estanho em prata. Mas a Humanidade foi ficando mais decadente, e passou a bastar marcar a, b, c, d,   ou NDA – e todos ficamos mais incompetentes.

O Micalba teve o desprazer de ser da última turma de várias experiências educacionais tupiniquins: fui da última turma a fazer o Exame de Admissão, dos primeiros a cursar a Quinta Série – antes era o Primeiro Ginasial, e só de ouvir meu pai falar em “Meninos do Ginásio” eu babava de inveja – e o último a fazer o Simuladão e o Unificadão, ainda que só para treinar. O Unificadão era uma espécie de avô do ENEM: a Federal ou a principal Estadual de cada Estado fazia um único vestibular, e os excedentes eram distribuídos pelas particulares. Já o Simuladão era um Unificadão de mentirinha, organizado pelos principais cursinhos, e ao invés de uma vaga na Universidade os candidatos ganhavam um prêmio pelo primeiro lugar de cada curso, enquanto o primeiro colocado geral disputava o sonho de qualquer universotário dos anos 70: um fusquinha, zero.

O Micalba ganhou no Simuladão um rádio toca-fitas (que foi furtado por algum FDP no mesmo ano em Torres-RS) e no Unificadão do RJ uma vaga na Medicina da Gama Filho, que não ocupou porque ainda estava no que era o 2º Ano do 2º Grau – para gáudio dos futuros pacientes, porque ele não levava nem leva o mínimo jeito para a coisa.

Minha maior decepção com o FHC foi justamente na educação: no resto nunca esperei grande coisa, mas um ex-professor devia pelo menos dar um choque num paciente terminal, ao  invés de ficar fazendo intermináveis diagnósticos – e, meninos de memória curta, era isso que o ENEM era inicialmente. Mas agora o ENEM é, eufemismos à parte, o novo vestibular – e sem nenhuma habilidade para tanto. Quando o Unificadão acabou, foi porque as dimensões estavam maiores do que os aplicadores podiam agüentar – e isso num universo muito menor. Mas nada disso detém o Super Lulalá e seus ajudantes, e daí é ENEM para todo mundo, vestibular disfarçado de diagnóstico – com os resultados que todos conhecem.

O Micalba sempre se deu bem em testes e concursos, mas isso nada tem a ver com inteligência ou capacidade – a não ser no meu conhecimento de duas regrinhas básicas – que vou compartilhar com vocês, grátis:

No 1 – O concurso avalia a capacidade do concorrente de fazer concurso;
No 2 – A prova avalia a capacidade do avaliado de fazer prova.

E só, com alguns corolários:
- Na dúvida, nunca responda o que você pensa, mas sim o que você acha que o avaliador deve pensar.
- Hipocrisia é fundamental, e em provas orais é indispensável.

O que me dá uma idéia: a de submeter os leitores do Micalba a uma prova para avaliar a inteligência, a classe, a graça e o savoir-faire de cada um. Tão logo eu volte da fazenda.

7.11.10

O MISTÉRIO E A MELANCIA

Cambridge, 1983.
Entre uma flanada e outra pelos Backs o Micalba viu um folheto anunciando uma conferência do autor da trilogia Pax Britannica. Eu tinha acabado de ler o último volume, e gostara bastante: os três livros - Heaven’s Command: An Imperial Progress (1973), Pax Britannica: The Climax of Empire (1968) e Farewell the Trumpets: An Imperial Retreat (1978) - são uma excelente história da ascenção e queda do Império Britânico, e muito bem escritos. Recomendo a qualquer um.
Eu julgava saber alguma coisa do autor: James Morris, galês nacionalista por escolha (pai galês, mãe inglesa), oficial condecorado na Segunda Guerra do 9º de Lanceiros da Rainha (9th Queen's Royal Lancers), repórter aventureiro do The Times com dois furos históricos - a conquista do Everest (ele subiu junto com Hillary e Tenzing até quase o topo) e a participação israelense na Crise de Suez de 1956. Pai de cinco filhos, historiador competente – e mais alguma coisa.
Com pontualidade mineira, cheguei à conferência uns quinze minutos atrasado, pois estava fazendo algo importante alhures: ou assistindo aulas, ou tomando um pint para lubrificar minha jornada cultural, ou perseguindo alguma toonie, ou foxy, ou bird. Faz muito tempo, não me lembro.
Esgueirei-me para um dos últimos lugares vagos do auditório – platéia cheia – e me espantei ao ver ao invés de James Morris uma simpática velhota, feia como a fome e com voz de taquara rachada. Por alguns minutos, pensei que a titia estivesse atuando como mestre de cerimônias: eu tinha certeza de estar no lugar certo, porque tinha lido um cartaz na porta – “A Lecture by the Author of the Pax Britannica Trilogy” – e também porque o tribufu estava definitivamente falando do assunto. E falando bem, por sinal, com segurança e muitas vezes na primeira pessoa: “Quando eu estive em Gallipoli”… “Quando visitei Calcutá”… Depois de algum tempo desisti de esperar o James e fiquei escutando a velhota, que afinal de contas era uma excelente conferencista. Quando tudo acabou – aplausos, perguntas, mais aplausos – e as luzes se acenderam, perguntei a um conhecido que fazia Classics  (e que devia ser mais informado do assunto do que nós engenheiros):
- Quem é ela?
- Jan Morris.
- A mulher do James? Por que ele não veio pessoalmente?
Meu conhecido riu e respondeu:
- Não, aquela é Jan Morris, a que foi o James um dia. Quero dizer, antes de cortar o pirusgulinho e mudar de sexo. (Algo como “before he chopped off his willie”).

A chére tante Jan Morris - ao lado, ainda James.

Espantei-me mas não me assustei, porque mesmo aos 22 anos eu já tinha visto bastante coisa: até cavalo com soluço, que o JGR reconhece que é uma das coisas mais difíceis de se ver. E continuei a vida.
E eis que anteontem dois amigos – o kapapreta e o deerhunter – me mandam um e-mail com a entrevista do Laerte, que agora é cross-dresser. E péssimo cross-dresser, diga-se de passagem: os modelitos dele são um horror. Patético.
Tentei comparar os dois casos, mas foi impossível.
Jan Morris nunca quis se separar da ex-esposa – as duas continuaram amigas e recentemente se casaram novamente, agora como união civil. Como justificativa de sua mudança radical, disse nunca ter sido homossexual, mas que desde pequeno sentia ter nascido com “o equipamento errado, e que. E apesar de James ter se reinventado como Jan, os dois são indubitavelmente muito talentosos: Jan preferiu escrever livros de viagens em lugar de História ou reportagens, e foi considerada um dos 50 melhores escritores britânicos (15º. lugar) desde 1945. Em 1999 recebeu a CBE, e é agora Dame Commander Jan Morris – sob protestos dela, que se considera mais galesa do que britânica. Em suma, Jan é hoje uma vovozinha simpática ou aquela tia velha e sábia que todos gostaríamos de ter – uma chére tante.
Laerte - uma tia velha, e olhe lá.
Já o Laerte perdeu o pouco talento que tinha, e que sempre foi grandemente exagerado pela imprensa tupiniquim, e agora se sai com essa. Vejamos algumas partes da entrevista – o link é http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/825136-cartunista-laerte-diz-que-sempre-teve-vontade-de-se-vestir-de-mulher.shtml – devidamente comentados pelo Micalba:
“De salto médio, meias coloridas, maquiagem leve e namorada a tiracolo, Laerte chega para dar entrevista à Folha sobre seu novo estilo de vida” – Namorada a tiracolo? Para que? Para dizer “sou cross dresser, mas macho prá caramba”? Ora, vá.
“Mas você é bissexual, certo? Sou. E não há ligação entre isso e o "cross-dressing"? Não. Você está fazendo isso para espantar o tédio? Não faço isso porque a vida está sem graça. O problema é a vida submetida a essa ditadura dos gêneros, a esses tabus que não podem ser quebrados. É você sentir que sua liberdade está sendo tolhida, que as possibilidades infinitas que você tem de expressão na vida, ao sair, ao se vestir, ao se manifestar, ao tratar as pessoas, seu modo, seu gestual, sua fala, tudo isso é cerceado e limitado por códigos muito fortes e muito restritos. Isso é uma coisa que me incomoda.” – O Micalba não acredita em perversões, desde que haja  pleno consentimento entre as partes. O que a turma chama de “perversão”o Micalba chama de “peculiaridades sexuais” , e acha que elas são como pimenta-do-reino – dão um tempero essencial à vida. Peculiaridade sexual, entretanto, é como escova de dentes – cada um tem a sua, ainda que algumas marcas coincidam. Ora, faz todo o sentido o cara ser cross dresser se ele sente tesão com isso – lá nele, como dizemos em Minas. Mas ser cross dresser e justificar isso com uma das respostas mais PC, babacas  e idióticas que tive o desprazer de ler nos últimos tempos é de lascar.
“As pessoas aparentam normalidade e tentam não demonstrar um espanto, certo?
Por uma razão: se demonstram espanto, estão ferindo um código de boa conduta intelectual. Demonstram que não são modernos, por exemplo. E na rua?
Quando eu estou na rua de saia e passa uma kombi e o cara faz "fiu-fiu" pra mim, ele não teve dificuldade nenhuma em fazer aquilo. E eu também recebo de forma muito clara.” – Ledo engano, meu caro. Se você desse uma passada no espelho antes de sair, ia ver que a real razão da aparente normalidade é simplesmente a educação de fingir não reparar em pessoas muito feias. Como mulher, você é uma mocréia de primeira água: nenhuma elegância, e muito menos gosto. Se for continuar como cross dresser – e, acredite, você não leva muito jeito para a coisa – passe antes num personal stylist. Urgente. Quanto ao motorista da Kombi, é a versão motorizada do canteiro de obras – o último recurso de qualquer jabiraca em estado de desespero terminal: se não sair “fiu-fiu” dali, não sai mais de lugar nenhum.
Em verdade, para se entender o Laerte, é preciso menos Freud e mais Jung – deixar o sexo de lado. O caso dele é a famosa “Síndrome de Agoraé”, e funciona assim:
Fulano ou fulana tem os seus cinco – às vezes até quinze – minutos de fama porque:
a)      Dançou uma dancinha;
b)      Compôs uma musiquinha;
c)      Escreveu um livrinho;
d)      Desenhou umas tirinhas;
e)      Mostrou a bundinha.
Mas o mundo gira, a Lusitana roda, a inspiração se vai, a idéia fica velha, o fulano perde o toque. O público some, a fama também, os amigos ainda elogiam, mas... Vai daí que o Fulano vai à imprensa e diz que agora é :
a)      hare-krishna (francamente démodé);
b)      Rajneesh (idem)
c)      Membro de uma seita evangélica;
d)      cross-dresser;
e)      concorrente de reality show.
Portanto, o Laerte é um caso de Síndrome de Agoraé Classe D; diga-se a favor dele que ainda restaram resquícios suficientes de dignidade para não escolher as opções “c” ou “e”.
Enfim... É assim. O caso da Jan Morris é um daqueles mistérios da condição humana, que começou com a coragem de decepar o próprio pirusgulinho. Já o Laerte é um caso de Melancia no Pescoço – e fim.  

6.11.10

O BURACO DO PADRE

O Micalba acabou de voltar da fazenda, onde foi supervisionar a reforma e ampliação da Casa de Micalba. Mas,  depois de saber o que está acontecendo ao “Caçadas de Pedrinho”, avisa aos amigos e circunstantes, futuros chupins incluídos: a obra vai atrasar, porque vou ter que mandar construir antes um Buraco de Padre – num local secreto, é lógico.
Um Buraco de Padre – um Priest Hole, no original – é um esconderijo que nasceu na Inglaterra na época da Elizabeth I e nos primórdios do Anglicanismo, quando se degolava católico só para ver se a cabeça quicava na tonsura. As famílias católicas então se fingiam de protestantes e escondiam um padre numa passagem secreta, geralmente debaixo da casa ou numa parede falsa. Às vezes o padre ficava claustrofóbico e tinha de ser humanamente sacrificado, mas era tudo (como na educação do Micalba) A.M.D.G. - Ad Maiorem Dei Gloriam.
Os Priest Hole mais famosos foram os construídos por Nicholas Owen, um irmão leigo jesuíta – olha o AMDG de novo aí, gente! – que acabou sendo apanhado, preso e martirizado (e canonizado como consolo – e, com lógica Micalbeana, é o patrono dos mágicos e  ilusionisas). Como Owen era pouco mais que um anão, um Priest Hole só perdia em conforto para uma casa popular – mas era isso ou o machado dos religiosamente corretos.
Mas quem conhece o Micalba deve estar se perguntando: para que um ateu vai construir um Buraco de Padre? Ora, é lógico que não pretendo colocar lá dentro nenhum chupim papa-hóstias – a não ser que o Bento Papão prometa pagar um bom aluguel, e pontualmente. Meu Buraco não vai abrigar padres, mas livros infantis: vou começar com as Obras Completas de Monteiro Lobato, e, por segurança, com a série Três Garotos/Três Escoteiros do Francisco de Barros Júnior, e os meus Kipling. Assim o Micalba, a Ursa e o Zuretão vão poder se esgueirar até lá no meio da noite e ler à luz de velas estorinhas eternas e viscerais em segurança, enquanto as sapatorras das politicamente corretas e as sapatilhas dos politicamente corretos ecoam impotentes no assoalho acima de nós.